8.30.2011

Knowing how to choose


As túlipas da varanda balançaram sobre o vento da manhã de primavera, salpicado o pólen amarelado o piso ladrilhado, ainda um pouco húmido dos chuviscos da noite passada, que havia lavrado a estrada alcatroada com lágrimas dos anjos, e pintando o céu numa tonalidade cinzenta esbranquiçada, quando o sol despertara detrás das montanhas.
Ele parecia cansado, sentado na mesa da apertada sala de jantar, com o olhar preso na janela corrida, onde apenas os velhos telhados dos apartamentos da cidade eram vistos, com dois ou três pardais aos pulos, alimentando-se do musgo e dos insectos viscosos que cresciam no mesmo. Tinha á sua frente a sua caneca de café com leite, pintada de riscas azuis, brancas e amarelas, e também o jornal desdobrado, aberto na página dos classificados, onde havia rabiscado umas quantas esferas ovais, em torno de letras negritas a dizer ‘’ procura-se empregado ‘’.
Sobre os seus chinelos de quarto, dormia o seu pequeno gato, enrolado numa bola como um ouriço caixeiro, ronronando baixinho sempre que este roçava os seus pés descalços no pelo cinzento-escuro.
Docemente, sentira os dedos dela, entrelaçarem o seu cabelo castanho encaracolado, e quando, dos seus lábios, um sorriso espontâneo havia surgido, os lábios dela beijaram o seu rosto de feições cansadas e gastas pelo tempo, repleto de barba espessa e rija.
 Estava ainda de pijama, com o cabelo dourado despenteado. Cheirava agradavelmente a menta fresca, misturado com torradas quentes, barradas a manteiga.
Sentou-se ao seu lado, pendurando-se no seu ombro, como uma criança, para ver o jornal, enquanto entrelaçava os pés descalços nos dele, como se estivessem a criar uma ligação um ao outro, onde transmitiriam todos os sentimentos meigos e as esperanças vivas, do futuro que tinham para enfrentar juntos, à sua frente.

1 comentário:

  1. Gostei das expressão "lágrimas dos anjos". E, mais uma vez, o texto está muito bonito. (:

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