12.25.2011

Come Back


Chegas-te tarde, trazendo contigo o Inverno. Respiro novos vento que me trazem esperança e me toca, como as pontas frias e macias dos teus dedos que percorrem o meu corpo despido de amor.
A vida passa-me entre as mãos, como areia do deserto, e nada acontece.
Sempre o mesmo vazio; a mesma ausência de respostas.
Tu partes. Eu fico. Novos ventos retomam como um ciclo vicioso.
Nada mais importa, tudo se apaga agora. Tudo menos as marcas pouco visíveis das feridas que ficaram para recordar, nos momentos melancólicos, que a solidão ainda habita dentro de mim, confortável, como um velho mendigo dentro da própria casa de destroços, que só ele sabe quantas vezes caiu e foi erguida. O silêncio quebrado pelo som dos teus lábios acorda os meus. Gretados, secos, mal estimados.
Parece que a lua se pintou de encarnado. Novamente, o mesmo truque do destino. A mesma réstia de esperança que eu sei que irei pagar tão caro, com o peso das lágrimas mas que agora não sou capaz de negar. Mais um alvo na teia de aranha que tece, como uma gueixa a tocar harpa.
Quem sou eu dentro desse circo de disfarces e fantasias? Somente aquele que ingénuo assiste e acredita nas mentiras tão pouco treinadas, encantando pelo brilho e pela cor, do que de forma menos óbvia parece um sonho tornado real.
Ouve-se uma porta. A janela bate. Tu voltas-te e estás ali, à minha frente com um pedido de desculpas estampado no rosto. Os braços abrem-se mais que sozinhos para te receber de volta. As malas da viagem de regresso caiem ao chão, silenciosas e discretas.
Ignorou-as simplesmente, fingindo não saber que estas serão as tuas companheiras daqui a tempo, quando novamente a janela se fechar e eu ficar, por ela a ver o vazio e despido Dezembro caminhar na rua, sozinho, por que mais uma vez, tu decidiste partir. 

2 comentários:

  1. Adoro o simples facto de que dominas as palavras e molda-as da forma que mais te convém e isso é bom. Principalmente para quem lê.

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  2. É impressionante como, com as tuas palavras consegues comover as pessoas e é como se estivéssemos a sentir cada palavra que tu escreves.

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