Quase não se ouve o embate contra o chão frio e molhado. Salpicam-se as paredes de sangue escurecido, ainda quente e vivo, que escorre entre as falhas da tinta das paredes despidas, que silenciosamente escondem o que resta de uma tentativa de grito mudo; um último pedido de ajuda que ninguém atendeu.
Mais um que se perde. Desta vez ali, entre o escuro de uma noite de Novembro onde rua abaixo, a podridão se oculta nos becos escurecidos, como gatos vadios que do medo fogem, tentando sobreviver por mais um dia com o pouco oxigénio que ainda não lhes é cobrado.
Sente-se um aperto no peito, um calafrio na espinha mas ninguém nota; ninguém sente falta.
Nada se perde, nada se ganha. Tudo continua, com as mesmas cartas em cima da mesa, caminhando no caminho errado onde apodrecem aos poucos, até que o persistente coração decida por si mesmo desistir da luta e assumir a derrota contra o que poderia ser inicialmente uma brincadeira inocente e acabou alastrando-se como uma bala que sem hesitar atravessa um peito, deixando atrás de si um rasto vermelho no ar e nada mais que só um entre tantos, caído no chão, morto pelo arrependimento que tarde demais chegou.
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