Acordou, rebolando sobre a cama, enrolado nos lençóis, virando as costas para o sol e para o mundo que o esperava impaciente, palpitando raios de sol contra a janela.
Como frequente não queria sair. Não queria acordar. Não queria viver. Mais uma vez a sua cabeça havia se desmoronado em peças, como um puzzle desfeito que escondia uma bonita história. Era com regularidade que abanava a cabeça e nada sentia, além do vazio que havia dentro de si. Um vazio que ecoa tanta coisa que queria esquecer para não sentir, para não pensar, para não doer…
Mas eram essas mesmo que, como vultos negros, lhe puxavam as pernas para dentro de buracos negros onde as lembranças esquecidas e as memórias perdidas, cavalgavam sobre o tempo, trazendo na brisa do vento, frases beijadas que haviam sido apagadas, como se o caos se espalhasse no seu corpo de cinzas. E era por isso, que eram oito e vinte cinco, e no pequeno apartamento não cheirava a café quente. Era por isso que a porta não batia suavemente à várias manhãs e era por isso também que tanto o seu lado no roupeiro e o seu lado na cama, eram lugares vazios, onde esboços de corpos rasgados se viam nitidamente envolvidos, afundando-o mais na confusão ao relembrar as marcas de batom que manchavam as almofadas brancas, que agora não eram mais que o lugar, onde a sua cabeça repousava em paz, junto a dela, sentido a respiração arranhar atrás das orelhas dele, enquanto algo bom, completamente indomesticado e descontrolado, corria pelo corpo dele, da cabeça aos pés. Algo que ele nunca soubera ao certo o que era, mas que ouvira falar nos livros e na televisão. Algo que só descobriu quando a tinha visto, numa sexta-feira à noite, sair pela porta onde havia entrado à três anos, repleta de sorrisos e esperanças, com as malas na mão.
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