O doce odor da chuva acorda os sentidos adormecidos entre os cobertores de sonhos apagados e fechados. É esta nostalgia que me faz sentir acordado, embora uma boa parte de mim se queira ver livre dela a qualquer custo, e continuar de cabeça erguida como um soldado que venceu a guerra. Sinto o vazio da espada e do escudo nas minhas mãos. Armas que me defenderiam e me ajudariam a vencer um dia, neste guerra de corpo-a-corpo, onde somente os mais corajosos conseguem sobreviver entre o leito de sangue derramado.
Vivo uma nova página desse capítulo sem fim, onde a cada letra uma nova decepção se ergue, como as torres dum mosteiro onde no eco do seu vazio, as vozes se perdem e se encontram como fantasmas do passado que dançam entre os claustros gélidos salpicados de neve do Inverno que me habita.
Pássaros negros esvoaçam sobre mim, esperando ansiosamente a minha queda para se alimentarem do que resta dos destroços de uma alma fragilizada, solitária nesse deserto de emoções sentidas.
Olho à volta; a minha fiel companheira ainda aqui está. Oh, doce solidão que me aqueces.
Envolvo-me no casulo da minha alma enquanto faço a crisálida e aguardo que, quem sabe um dia, a metamorfose chegue, antes desses malditos pássaros necrófagos terem bicado o que sobrava de uma pequena e insignificante esperança adormecida que como vermes se esconde debaixo das pedras e me deixa, assim, seguindo a rota do vento do deserto de areia escura onde a cada passada, um pouco mais de mim se enterra e se perde, sem ninguém dar conta e sem deixar saudade.
Adorei o texto, uma boa utilização dos recursos estilísticos e um vocabulário preenchido.
ResponderEliminarMuito sentimental.
muito obrigada, gostei :)
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