1.12.2012

Small, quiet, desert plain



Dispo as plumas que me aquecem nesta noite de puro gelo que se abriga nesses cantos vazios das ruas, onde os gatos vadios se escondem nas sombras dos rumores que caminham saltitando na calçada, de braço dado com as criticas sem sentido que estas ditas pessoas normais, vomitam aqui e ali, sujando a tão falada população civilizada que rejeita e afasta todas as diferenças.
Por momentos parece que estou sozinho; acompanhado por todos estes anormais semelhantes, pobres de alma e de espírito. Seres necrófagos que se alimentam da tristeza dos outros. Levam-na para baixo da mesa onde lhe roem os ossos como tiranos selvagens. 
Sou o que sou, sem medos. O casaco caído aos meus pés soa a silêncio discreto.
Engulo a vergonha e o receio do pouco que havia a esconder e mostro; Mostro o interior cru mas rico em sentimentos e memórias, que existe onde tantos defeitos da boca dos outros couberam sem medos, assanhados pela vontade de ouvir o suave som de uma lágrima de injustiça nos olhos inocentes de um pobre alguém que desejou um dia uma vida como a de tantos outros que passam discretos, sem vida e sem cor, na berma da estrada com o silêncio a encher a boca. 
Sinto-me grandioso em minúsculos segundos. Pelas poucas vezes, o maior. Os ouvidos desligam. Para mim, qualquer mero sibilar dos lábios será uma crítica que me fará crescer e alcançar o lugar ao sol. Não sou mais um dos tantos membros dessa ninhada de gatos medrosos que se escondem nas sombras da podridão que caminha sem personalidade, rindo e comentado cada gesto ou passo que lhe enfrenta o olhar ao virar da esquina, numa de luta de espadas onde o suposto verme sem respeito, educação e tantas outras coisas que faltam nessas gentes da sociedade do mundo moderno, sai vitorioso.
Os holofotes apagam-se à medida que passo. O Público abandona a plateia ainda a olhar de lado porém, as estrelas continuam sobre mim ansiosas, tal como eu, por espalhar um pouco da minha essência na calçada, e assim continuo rua fora, sozinho, despido, criticado.
Ainda ouço os seus pés nos telhados dos prédios que me abraçam; Buscam o momento certo para me desenterrarem dessa vitoriosa coragem e me enterrarem na cama de medos donde tantas noites chorei para não sair, arrastando os cobertores de lágrimas e mágoas que hoje não são mais do que, uma das muitas armas que me tornou quem sou: Uma pessoa normal com total orgulho em si. 

Sem comentários:

Enviar um comentário